Grave o seu nome, seu traço e reconheça a sua cor preferida. Num instante seguinte, mude de cor e de traço; se quiser, mude até a forma como desenha o seu nome. Descubra a liberdade de se transformar e de fazer a sua própria história”.

Helio Rodrigues


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

CRIMINALIDADE E ARTE

Na novela “Amor à vida” exibida até recentemente pela TV Globo, o personagem Ninho, vivido por Juliano Casarré, é um artista plástico que divide seu tempo entre a arte e a criminalidade. Apesar do excelente trabalho do ator, que emprega um tom ingênuo, quase burro ao personagem, para, quem sabe, conseguir reunir esses dois perfis num só sem precisar lançar mão de uma esquizofrenia, confesso, não consegui acreditar nessa parceria.
Já faz bastante tempo que me dedico à arte-educação e, entre as minhas ações, o projeto “Eu sou” tem sido um espaço de colheita de excelentes resultados, por isso posso afirmar: ainda não assisti alunos que depois de estabelecerem vínculos verdadeiros com a arte tivessem ido ao encontro ou debandado para a criminalidade. Sinto que há algo de incompatível nessa dupla escolha.
Acredito, que à partir do contato com a subjetividade que propõe a arte é também promovido o desenvolvimento de um valor maior nos sujeitos, ou ao menos ela traz reflexões a respeito deles. 
Durante o processo de relação entre o indivíduo e a arte, a primeira conquista é a autodescoberta que traz estima ao próprio indivíduo e consequentemente maior valor sobre si mesmo. Nutrir-se de si mesmo; isso é o que fundamenta, é o que dá origem ao processo de construção de sujeitos.
A descoberta do outro costuma ocorrer num movimento seguinte; como uma continuidade de si mesmo essa descoberta confirma a própria existência ao mesmo tempo em que leva à valorização desse outro ou ao menos algum respeito por ele.
 Vividos esses dois processos tão importantes de construção, esses indivíduos então descobrem o poder que têm de mudar o entorno; e assim se fazem sujeitos políticos, sociais e afetivos.
É ainda essa subjetivação (valorização do sujeito), tão bem veiculada pela arte, que pode equilibrar o excesso de valor que é dado à coisa nesse mundo em que vivemos.
Em resumo:
O que, eliminando-se as patologias (que aliás pouca representação têm nas estatísticas), pode ser mais responsável pela criminalidade do que: o pouco valor à vida, as passionalidades e o desejo de ser através da conquista de coisas?
Não precisamos de pessoas-máquinas, pessoas repetidoras, nossa era é pós industrial. Não precisamos de auto desconhecidos, eles não têm porque preservar a própria vida ou a dos outros. Precisamos de seres pensantes, produtivos. Já temos muitos vivendo à margem da sociedade formal, basta resgatá-los com educação e arte.


4 comentários:

  1. Se fosse ao vivo, eu estaria de pé batendo palmas!! Bem forte!!

    ResponderExcluir
  2. Hélio bom ler textos tão ricos de sensibilidade? Vc como sempre nos fazendo acordar, sair do conforto!!!!! Parabéns pela sua luta, através da Arte. Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado blogdafat, realmente acredito muito nessa luta.
      Bjs pra vc também.

      Excluir

TRANSFORMAÇÃO DAS ARMAS