Grave o seu nome, seu traço e reconheça a sua cor preferida. Num instante seguinte, mude de cor e de traço; se quiser, mude até a forma como desenha o seu nome. Descubra a liberdade de se transformar e de fazer a sua própria história”.

Helio Rodrigues


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

“ESTÉTICAS APRISIONADAS"


Tema das palestras ministradas por Helio Rodrigues nos locais de exposição da instalação:
"O MURO"

EAV- Escola de artes visuais do Parque Lage em janeiro de 2013 - RJ
Circuito Cultural da Praça da liberdade em outubro de 2013 – BH
Em abril de 2014 no Museu Oscar Niemayer - Curitiba


Passei grande parte da infância me sentido um peixe fora d’agua, experimentando uma quase constante sensação de não pertencimento até os meus 13 anos quando a arte me foi apresentada.
Foi a arte que me deu condições para ir me construindo e desconstruindo ao longo da vida; é claro, repleto de dúvidas e conflitos. Foi com ela também que descobri a intensidade que pode existir em tudo com que nos relacionamos.
Muitos anos depois, criar e desenvolver o Projeto Social “Eu sou” não foi acaso. Também não foi uma atitude heroica, como já quis acreditar, nem tão pouco altruísta. Penso que tudo começou por uma vontade de rever e tratar profundamente a minha própria identidade.
Parece frase pronta, mas aprendo muito com as crianças e os jovens que atendemos. Além, evidentemente, da imensa troca que todos nós da equipe estabelecemos.
Mas, ainda sobre os meus ganhos pessoais, vale dizer, as crianças me exigem praticar a pluralidade e não apenas acreditar nela teoricamente. Além disso, me permitem rever, refletir e interagir com a tal sensação de não pertencimento que experimentei na minha infância. Esse não pertencer legitimamente é também muito comum entre as crianças e jovens de favelas. Há na verdade, pouco direito à escolhas.  Dentro de suas comunidades existem dois espaços muito fortes que se apresentam como possibilidades: a criminalidade ou a igreja.
Sem dúvida, as favelas desenvolvem uma cultura e uma estética própria, mas, quase sempre confinada, restrita, cerceada pelos muros sociais. É essa mesma estética que passa a ser identificadora de uma massa de pessoas que vive nessa condição. Não há verdadeiramente individualidade. A favela em si é a grande mãe que concentra a identificação.
Com o desenvolvimento do projeto percebemos que, quando essas crianças e jovens, incentivadas pelo contato com a universalidade da arte, atravessam os muros sociais passam também a estabelecer contato com outras normas culturais. Se confrontam então com uma estética além das fronteiras que até então conheciam. Nesse ponto, por mais que não haja condutas discriminadoras por parte da equipe de profissionais, muitas vezes, os próprios alunos começam a apresentar um perigoso desprezo por suas origens estéticas e culturais. Outros, se defendem abandonando o projeto como se quisessem “apagar” ou interromper a própria sensibilidade. Possivelmente esses, preveem as mudanças que podem ocorrer em suas vidas e preferem desistir.
Essas ocorrências se tornaram muito preocupantes para nós do projeto. Por isso pensamos e realizamos um movimento emergencial. Criamos uma série de atividades artísticas para instigar nossos alunos a pensarem dois conteúdos presentes nos processos artísticos:
1- As diferenças entre um olhar extraordinário e um olhar ordinário.
2- O poder da descontextualização, quando fazemos um recorte sobre um todo qualquer.
Depois de uma série de exercícios e reflexões baseadas nesses conteúdos, pedimos que cada um, munido de seu olhar ampliado, recortasse fotograficamente uma imagem de sua comunidade. Os resultados foram surpreendentes.
 “O Muro” é o resultado desses recortes. Um grande obstáculo que foi sendo vazado pela sensibilidade de muitos olhares. Ele é o resultado da intervenção da arte na vida desses jovens. Traz dentro dele a oportunidade da confirmação da força que tem o olhar quando é permeado pela arte. 
Todos nós, da favela ou não, vivemos aprisionados pelas nossas estéticas. Somos regidos por um poder maior que nos dita o que devemos aplaudir ou rejeitar em nossas vidas. Tudo, supostamente, para pertencermos a algum meio social.
A arte, no mínimo amplia nossa área de pertencimento. Muitas vezes ainda faz melhor, ela nos universaliza. Os muros, por sua vez,  perdem o poder que têm de cercear e acabam se transformando em objeto questionador. 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ESPECIAIS AGRADECIMENTOS À FARMOQUÍMICA NOSSA PARCEIRA NO PROJETO "EU SOU" E NAS EXPOSIÇÕES DO "MURO"

TRANSFORMAÇÃO DAS ARMAS