Grave o seu nome, seu traço e reconheça a sua cor preferida. Num instante seguinte, mude de cor e de traço; se quiser, mude até a forma como desenha o seu nome. Descubra a liberdade de se transformar e de fazer a sua própria história”.

Helio Rodrigues


domingo, 16 de maio de 2010

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL

O projeto “Eu sou” e “Eu quero” trabalha para o desenvolvimento dessa inteligência entre os grupos de crianças e jovens que atende.
Através de propostas artísticas específicas, buscamos estimular o autoconhecimento nas nossas crianças e, só depois de instalada essa conquista, promovemos o “ir de encontro ao outro”, comumente chamado de socialização.
Percebemos que essas relações interpessoais só passam a ser realmente produtivas (portanto capazes se promover desenvolvimento a todos os envolvidos), quando o indivíduo é capaz de se deslocar e se “colocar no lugar do outro”.
É dessa soma: autoconhecimento e percepção do outro (em suas diferenças e semelhanças), que se produz um campo possível de desenvolvimento para o que podemos chamar de inteligência emocional.
Como as questões relacionadas com a subjetividade são as grandes colaboradoras do crescimento dessa inteligência, é no criativo e na arte que vamos encontrar a grande potência; a fonte desse saber e desenvolver. No entanto, a educação instalada vem priorizando as conquistas técnicas e tecnológicas, tratando-as como únicas para a construção de um “indivíduo idealizado”. Pessoas vêm sendo pasteurizadas no máximo em “grupos iguais”, enquanto novas sociedades (tanto as afetivas quanto as profissionais) vêm se unindo às diferenças pelos mais variados motivos, inclusive para não se repetirem simplesmente e indefinidamente.
Há uma urgência na revisão do papel e importância da arte dentro dos meios que se dizem promotores dessa “formação”, para que esses (meios educacionais), não ampliem ainda mais a distância e o antagonismo que vêm se estabelecendo entre eles e essa nova sociedade que ganha forma.
Não acredito em educação sem a arte, assim como não acredito em crescimento sem um olhar diferenciado. Não há inteligência emocional sem o criativo e a particularidade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

UMA CASA QUE ME (RE)CONSTRUA

“Ao construir essas paredes, protegê-las por um teto, abrir janelas, portas e às vezes até colocar dentro dela móveis, objetos e pessoas, eu me reconstruo”.
Criança imaginária

O contato de um indivíduo com a arte parece só ganhar importância quando o seu criativo apresenta contornos de linguagem. Talvez somente depois da criação e o desenvolvimento de códigos, se estabeleçam verdadeiramente os primeiros vínculos entre o indivíduo e a arte.
Pessoalmente, só nomeio como arte, produtos ou ações artísticas que transponham o óbvio e consequentemente me façam pensar. Portanto, no universo artístico infantil, aquelas tradicionais produções recheadas de casinhas com chaminés, flores, árvores e morros redondos aquecidos por um sol com carinha, são na verdade a construção de um desafio; obstáculos colocados entre o indivíduo e a arte, que nós arte-educadores precisamos ajudar a transpor.
Sempre acreditei que, somente quando estereótipos perdem a força e são substituídos por resultados particulares, genuínos, é que se inicia um processo verdadeiramente expressivo. No entanto, o contato intensivo, que passei a ter, nesses últimos anos, com crianças “desnutridas de si mesmas”, como é o caso de muitas que atendemos no projeto, me fez reavaliar o olhar e o pensar a respeito.
Percebi que elementos típicos da representação estereotipada, como casinhas, flores, sóis e corações podem na verdade ir muito além da linguagem vazia e previsível que eu preconceituava, para se constituírem como elementos altamente simbolizadores de experiências vividas ou desejadas por essas crianças e jovens.
Quando essas crianças chegam ao projeto, a grande maioria jamais teve contato com outra linguagem que não seja com aquela em que se tentam conquistas básicas e concretas: uma linguagem de sobrevivência, de subsistência. Portanto, esperar uma relação dessa criança com um universo simbólico mais rico, ou seja, mais criativo pode ser no mínimo prematuro para não dizer irreal. O que acredito que se precisa rever e reconsiderar é que elementos comuns e aparentemente óbvios como as simples casinhas, podem conter simbolicamente muito do universo de experiências e desejos, tendo como prioridade o acolhimento e a proteção de quatro paredes.

TRANSFORMAÇÃO DAS ARMAS