Grave o seu nome, seu traço e reconheça a sua cor preferida. Num instante seguinte, mude de cor e de traço; se quiser, mude até a forma como desenha o seu nome. Descubra a liberdade de se transformar e de fazer a sua própria história”.

Helio Rodrigues


sexta-feira, 14 de maio de 2010

UMA CASA QUE ME (RE)CONSTRUA

“Ao construir essas paredes, protegê-las por um teto, abrir janelas, portas e às vezes até colocar dentro dela móveis, objetos e pessoas, eu me reconstruo”.
Criança imaginária

O contato de um indivíduo com a arte parece só ganhar importância quando o seu criativo apresenta contornos de linguagem. Talvez somente depois da criação e o desenvolvimento de códigos, se estabeleçam verdadeiramente os primeiros vínculos entre o indivíduo e a arte.
Pessoalmente, só nomeio como arte, produtos ou ações artísticas que transponham o óbvio e consequentemente me façam pensar. Portanto, no universo artístico infantil, aquelas tradicionais produções recheadas de casinhas com chaminés, flores, árvores e morros redondos aquecidos por um sol com carinha, são na verdade a construção de um desafio; obstáculos colocados entre o indivíduo e a arte, que nós arte-educadores precisamos ajudar a transpor.
Sempre acreditei que, somente quando estereótipos perdem a força e são substituídos por resultados particulares, genuínos, é que se inicia um processo verdadeiramente expressivo. No entanto, o contato intensivo, que passei a ter, nesses últimos anos, com crianças “desnutridas de si mesmas”, como é o caso de muitas que atendemos no projeto, me fez reavaliar o olhar e o pensar a respeito.
Percebi que elementos típicos da representação estereotipada, como casinhas, flores, sóis e corações podem na verdade ir muito além da linguagem vazia e previsível que eu preconceituava, para se constituírem como elementos altamente simbolizadores de experiências vividas ou desejadas por essas crianças e jovens.
Quando essas crianças chegam ao projeto, a grande maioria jamais teve contato com outra linguagem que não seja com aquela em que se tentam conquistas básicas e concretas: uma linguagem de sobrevivência, de subsistência. Portanto, esperar uma relação dessa criança com um universo simbólico mais rico, ou seja, mais criativo pode ser no mínimo prematuro para não dizer irreal. O que acredito que se precisa rever e reconsiderar é que elementos comuns e aparentemente óbvios como as simples casinhas, podem conter simbolicamente muito do universo de experiências e desejos, tendo como prioridade o acolhimento e a proteção de quatro paredes.

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TRANSFORMAÇÃO DAS ARMAS